Mitos e Verdades sobre Dor Abdominal em Crianças

A dor abdominal é uma das queixas mais comuns no consultório pediátrico e frequentemente gera preocupação e ansiedade entre pais e responsáveis. Como pediatra, compreendo que diferenciar entre mitos e informações científicas é essencial para garantir o cuidado adequado às crianças. Vamos esclarecer juntos alguns mitos frequentes e reforçar verdades importantes sobre a dor abdominal infantil.

Mitos comuns sobre a dor abdominal infantil

"Dor abdominal é dor de crescimento"

É comum ouvir a ideia de que dores abdominais em crianças estão associadas ao crescimento, mas isso não é verdade. As dores relacionadas ao crescimento afetam principalmente músculos e articulações das pernas, e não o abdome.

Evidências científicas: Estudos mostram que não há relação comprovada entre crescimento ósseo e dor abdominal infantil.

"Vermes causam dor abdominal generalizada"

Embora verminoses possam causar dor abdominal, essa dor costuma ser localizada ao redor do umbigo ou na parte inferior do abdômen, raramente sendo difusa ou espalhada por toda a barriga.

Evidências científicas: Verminoses normalmente afetam o intestino delgado e grosso, causando desconforto específico e não generalizado.

"Toda dor abdominal infantil é algo grave"

Felizmente, a maioria das dores abdominais em crianças é resultado de problemas benignos e passageiros, como gases, constipação ou infecções virais simples.

Evidências científicas: Pesquisas indicam que a grande maioria das crianças com dor abdominal apresenta causas simples e facilmente tratáveis.

Verdades importantes sobre a dor abdominal

Causas comuns da dor abdominal

Problemas digestivos

• Constipação: muito frequente em crianças pré-escolares, causando dor abdominal e desconforto.

• Diarreia: geralmente associada a vírus ou intoxicação alimentar, causando dor e cólicas.

• Gases: o acúmulo de gases é uma causa comum de dor leve a moderada em crianças.

• Intolerância alimentar: especialmente à lactose, causando dor, gases e alterações intestinais.

• Refluxo gastroesofágico: causa desconforto principalmente em bebês e crianças pequenas.

  
  

Condições médicas urgentes

• Apendicite: requer atenção médica imediata; a dor começa geralmente ao redor do umbigo e migra para o lado inferior direito do abdômen.

  
  

Infecções que causam dor abdominal

• Viroses (gastroenterite viral): dor abdominal, vômitos e diarreia são comuns.

• Infecções urinárias: dor localizada na parte inferior do abdômen, ardência ao urinar e febre.

• Pneumonia: pode se manifestar com dor abdominal associada a febre e tosse.

• Meningite: dor abdominal, dor de cabeça intensa, febre alta e rigidez de nuca.

  
  

Outras causas importantes

• Trauma abdominal: pancadas podem causar dor intensa e necessidade de avaliação médica.

• Constipação funcional: causa dor abdominal recorrente, frequentemente associada ao estilo de vida ou dieta.

• Dor psicogênica: associada ao estresse ou ansiedade, frequente em crianças em idade escolar.

• Doenças crônicas intestinais: como doença de Crohn e retocolite ulcerativa, que causam dor abdominal prolongada.

  
  

Classificação da dor abdominal

• Dor aguda: de início repentino e curta duração (menos de duas semanas).

• Dor crônica: persistente ou recorrente, durando mais de duas semanas.

• Intensidade: leve, moderada ou intensa, dependendo da causa e da percepção individual da criança.

  
  

Tratamento e conduta médica

Identificar a causa específica é essencial para tratar adequadamente a dor abdominal infantil. Medidas simples, como repouso, hidratação adequada e compressas mornas, podem ser suficientes em casos leves. Casos moderados podem necessitar de medicamentos específicos para dor ou condições associadas, enquanto causas graves, como apendicite, podem requerer cirurgia.

Quando buscar ajuda médica imediata

Procure atendimento imediato se a dor for intensa, persistente ou vier acompanhada por:

• Febre alta

• Vômito persistente

• Diarreia com sangue

• Sinais de desidratação (boca seca, pouca urina, ausência de lágrimas)

• Perda significativa de peso

  
  

Conclusão

Pais e responsáveis bem informados são cruciais para o manejo adequado e seguro da dor abdominal infantil. Use este guia para diferenciar entre situações comuns e preocupantes, mas sempre confie em sua intuição. Busque sempre a avaliação de um pediatra de confiança para garantir um diagnóstico preciso e um tratamento eficaz.

Referências:

• Sociedade Brasileira de Pediatria. Dor abdominal na infância.

• Dor abdominal em pediatria

  
  

Dr Heitor Oliveira