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Bronquiolite: sinais precoces, erros comuns e tratamento em bebês e crianças pequenas

  • Foto do escritor: Heitor Oliveira
    Heitor Oliveira
  • há 11 minutos
  • 15 min de leitura

Dr Heitor Oliveira


Bebê com falta de ar

A bronquiolite é uma infecção viral das vias respiratórias inferiores, que inflama os bronquíolos (pequenos canais de ar nos pulmões dos bebês). Afeta principalmente crianças menores de 2 anos e é uma das principais causas de internação de bebês, especialmente com menos de 6 meses​

Na prática, costuma começar como um resfriado comum, mas pode evoluir rapidamente para um quadro grave de dificuldade respiratória. Em Piracicaba (SP) e região, por exemplo, os casos de bronquiolite em 2024 mais que dobraram em relação a 2023, passando de 613 para 1.279 atendimentos

Isso representa um aumento de 108% e acende um alerta para pais, mães e profissionais de saúde sobre a importância de reconhecer cedo a doença e tratar adequadamente.


Sinais precoces da bronquiolite – o que observar?

Nos primeiros dias, a bronquiolite pode parecer apenas um resfriado comum. A criança apresenta nariz entupido, coriza (secreção nasal), alguns espirros, tosse leve e, às vezes, febre baixa

Esses sintomas iniciais enganam – muitos acreditam se tratar apenas de um resfriadinho sem importância. Infelizmente, em cerca de 1 a 3 dias, o quadro pode piorar rapidamente, especialmente em bebês pequenos​

É nessa hora que alguns sinais clínicos precoces (que frequentemente passam despercebidos) indicam que não é só um resfriado comum, mas possivelmente bronquiolite. Fique atento aos seguintes sinais de alerta:


  • Respiração cada vez mais rápida ou ofegante: observe se o bebê começa a respirar muito depressa, fazendo movimentos visíveis no abdômen e no peito. O uso da musculatura acessória é um sinal importante: a barriguinha sobe e desce rápido e as costelas ficam marcadas a cada respiração, como se estivessem “afundando” (isso é chamado de tiragem)​

    Além disso, as narinas dilatam a cada inspiração (o chamado “batimento de asa do nariz”) para tentar puxar mais ar​

    Esses sinais indicam esforço respiratório aumentado, mesmo antes de surgir o chiado típico.


  • Chiado ou barulho no peito: à medida que os bronquíolos inflamam, pode-se notar um chiado (sibilo) ao respirar, parecido com o som de “gatos chiando” dentro do peito do bebê​

    Nem sempre o chiado aparece nos primeiros dias, mas se você encostar o ouvido no tórax da criança e ouvir roncos ou um chiado fininho, é um alerta. Em casos mais avançados, o bebê pode emitir um som de gemido ou ronco a cada expiração, tentando expulsar o ar preso​

    Esse gemido expiratório é sinal de que a respiração está bem difícil e deve ser avaliado imediatamente.


  • Dificuldade para mamar ou se alimentar: muitos bebês com bronquiolite perdem o interesse na mamada ou na mamadeira. O nariz entupido e a respiração acelerada fazem com que mamar fique difícil, pois o bebê precisa parar várias vezes para respirar​

    Observe se ele fica cansado ao se alimentar, chora e não consegue mamar contínuamente, ou começa a engasgar e tossir durante a alimentação. A redução do apetite e das mamadas pode levar à desidratação – note se há menos fraldas molhadas que o normal ou boca/lábios mais secos​


  • Alteração no sono e no comportamento: um bebê com dificuldade respiratória poderá ter sono agitado ou, ao contrário, ficar sonolento demais e abatido. Irritabilidade excessiva ou, ao contrário, um bebê muito quietinho e apático, podem ser sinais de que algo não vai bem. Fique alerta se a criança tem dificuldade para dormir devido à tosse e congestão, ou se demonstra cansaço extremo.

  • Apneia (pausas na respiração): em bebês muito novos (especialmente recém-nascidos e menores de 2 meses), por incrível que pareça, às vezes a bronquiolite se manifesta primeiro por apneias – pequenos episódios em que o bebê para de respirar por alguns segundos​

    Esse sinal é pouco conhecido: o bebê pode não ter quase tosse nem febre no início, mas apresenta essas pausas respiratórias, ficando pálido ou roxinho. Apneias são uma emergência e requerem busca imediata de atendimento. Embora sejam raras, ocorrem principalmente com o vírus sincicial respiratório (VSR) em bebês novinhos.


Em resumo, nariz escorrendo e tosse leve no começo podem não preocupar, mas fique de olho na respiração do seu filho. Se o bebê começar a “cansar” para respirar, mamar menos, ou apresentar qualquer um desses sinais de dificuldade, procure atendimento médico. Muitos desses sinais precoces não são reconhecidos por grande parte dos profissionais de saúde generalistas, mas um pediatra experiente os identifica rapidamente. Pais informados podem perceber essas mudanças sutis e buscar ajuda antes que a bronquiolite piore. Lembre-se: quanto mais cedo a identificação, melhor o manejo e menor o risco de complicações.


Três erros comuns que atrasam o diagnóstico (e aumentam o risco de internação)

Infelizmente, alguns equívocos frequentes fazem com que a bronquiolite demore a ser diagnosticada corretamente, resultando em tratamento tardio e maior chance de hospitalização do bebê. Vamos destacar três erros comuns – cometidos tanto por famílias quanto, às vezes, por profissionais – que devemos evitar:

1. Confundir bronquiolite com um resfriado ou alergia e subestimar os sintomas. É muito comum achar que o bebê está apenas “gripadinho” e não perceber a evolução para bronquiolite. Nos primeiros dias, realmente é difícil diferenciar, pois os sintomas se misturam com os de um simples resfriado​

O erro acontece quando se mantém essa impressão inicial e não se reavalia a criança depois de 48-72 horas. Muitos pais (e até profissionais) atribuem o chiado ou a tosse persistente a “asma” ou “peito cheio” por alergia, ou acreditam que a melhora virá espontaneamente como num resfriado comum. Com isso, sinais de agravamento passam batido e o diagnóstico de bronquiolite só é feito quando a criança já está em franca dificuldade respiratória.

Como evitar: tenha em mente que um resfriado em bebê pequeno pode evoluir para algo mais sério. Reavalie a respiração do seu filho várias vezes ao dia. Se notar piora (conforme os sinais de alerta já descritos), não espere – procure o pediatra ou pronto-socorro. É melhor uma avaliação extra por precaução do que perder o momento de intervir.


2. Demorar para buscar atendimento médico diante dos sinais de alerta. Outro erro crítico é esperar demais para levar a criança ao hospital ou médico especializado. Às vezes, por achar que é “só um vírus” que tem que seguir seu curso, os pais tentam tratar em casa por muitos dias. Ou então, mesmo percebendo que o bebê está cansado para respirar, podem adotar a atitude de “vamos observar mais uma noite”. Esse atraso pode ser perigoso. Bebês pequenos podem piorar em questão de horas. Quando há sinais claros de desconforto – respiração muito rápida, gemência, recusa alimentar, criança molinha – é fundamental procurar atendimento imediatamente​

Outro aspecto: se você já foi ao pronto-atendimento uma vez e o bebê foi liberado para casa, mas depois piorou, não hesite em voltar com ele. Às vezes, a primeira avaliação ocorre bem no começo da bronquiolite, quando ainda não estava tão grave, mas depois evolui.

Como evitar: conheça os sinais de alerta citados e tenha um “limite” claro para buscar ajuda. Febre alta persistente, dificuldades para mamar, ou qualquer dificuldade respiratória relevante em bebês pequenos são motivos para reavaliação médica urgente. Prefira serviços pediátricos ou hospitais com UTI neonatal/pediátrica se possível, pois estão mais preparados. Lembre-se: bronquiolite grave é caso de emergência, não dá para tratar só em casa.


3. Tratar de forma inadequada por conta própria ou seguir orientações desatualizadas. O terceiro erro comum é a automedicação ou tratamento incorreto, que pode mascarar sintomas e atrasar o diagnóstico correto. Um exemplo é administrar xaropes para tosse ou remédios descongestionantes por conta própria – além de não ajudarem (e serem contraindicados para bebês), esses medicamentos podem dar falsa impressão de melhora ou causar efeitos indesejados. Outro erro é quando um profissional não especializado acaba prescrevendo remédios que não têm eficácia comprovada contra bronquiolite, como antibióticos (a bronquiolite é viral, não adianta antibiótico) ou até corticóides e broncodilatadores de rotina. Estudos e diretrizes modernas mostram que nenhum medicamento encurta o curso da bronquiolite – ou seja, não existe “xarope milagroso” para curar​

Broncodilatadores (remédios para “abrir os brônquios”, como salbutamol) e corticóides não são recomendados na maioria dos casos, pois não demonstraram benefício significativo​

Mesmo assim, por muitos anos eles foram usados rotineiramente, e alguns profissionais ainda os receitam por hábito​

Isso pode atrasar o tratamento correto, que é principalmente de suporte.

Como evitar: nunca medique um bebê por conta própria sem orientação do pediatra – além de não ajudar, pode ser perigoso. E se receber uma prescrição, não tenha medo de perguntar: “Esse medicamento ajuda mesmo na bronquiolite? Há evidências?” – principalmente antibióticos ou corticoides, já que as diretrizes atuais da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e da Academia Americana de Pediatria (AAP) não recomendam seu uso rotineiro em bronquiolite​

O foco deve ser em medidas de suporte (que detalharemos a seguir). Buscar segunda opinião de um pediatra, especialmente um pneumologista pediátrico, pode ser válido se o plano de tratamento parecer desatualizado.


Em suma, evitar esses três erros – subestimar a doença, postergar atendimento e tratar errado – pode fazer toda a diferença. Isso leva a diagnosticar a bronquiolite mais cedo e cuidar do bebê em casa ou no hospital no momento certo, reduzindo o risco de complicações mais graves e internações prolongadas.


O que dizem as diretrizes (SBP, AAP) – diagnóstico e tratamento correto

Felizmente, as sociedades médicas oferecem protocolos claros para lidar com a bronquiolite. Tanto a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) quanto a American Academy of Pediatrics (AAP) enfatizam uma abordagem simples e eficaz, seguida também pelos principais hospitais pediátricos de referência no Brasil (como o Hospital Infantil Sabará e o Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo). Em linhas gerais, as diretrizes atuais se baseiam em diagnóstico clínico e tratamento de suporte, evitando intervenções desnecessárias. Vamos traduzir isso para termos práticos:

  • Diagnóstico clínico, poucos exames: hoje sabemos que não é preciso submeter o bebê a uma bateria de exames para diagnosticar bronquiolite. O médico faz o diagnóstico principalmente pela história e exame físico – ou seja, pelos sintomas (tosse, coriza, dificuldade respiratória após um resfriado) e pela ausculta do peito com o estetoscópio​

    Testes de vírus (como o exame para detectar VSR) normalmente não são necessários na rotina, pois muitos vírus diferentes podem causar o quadro e saber exatamente qual não muda a conduta​

    Também não se indica fazer radiografia de tórax de rotina ou exames de sangue em casos típicos​

    Esses exames só são feitos se houver dúvida diagnóstica ou suspeita de complicações (por exemplo, se o médico suspeitar de pneumonia associada). Em outras palavras: se seu bebê tem menos de 2 anos, está em época de circulação de vírus, e apresenta aquele quadro clássico de começo com resfriado evoluindo para chiado/falta de ar, provavelmente é bronquiolite – e os médicos dos grandes centros já reconhecem isso sem precisar de muitos exames.


  • Acompanhamento da oxigenação: algo que faz parte do protocolo é verificar a saturação de oxigênio da criança (geralmente pelo oxímetro, aquele aparelhinho colocado no dedo ou pé do bebê). Se a saturação estiver baixa (geralmente < 90–92%), é um indicativo de bronquiolite mais grave, e a oferta de oxigênio suplementar pode ser necessária​

    Nos casos leves, a saturação fica normal e o bebê consegue respirar sem ajuda extra – então pode ser manejado em casa com orientações. Nos casos moderados a graves, manter a oxigenação é prioridade.


  • Tratamento de suporte (hidratação, oxigênio e conforto): não existe um “remédio específico” que cure a bronquiolite, então o tratamento consiste em apoiar o bebê até que ele próprio vença a infecção

    Isso inclui várias medidas simples, mas fundamentais:


    • Hidratação adequada: garantir que o bebê esteja bebendo líquidos ou mamando o suficiente. Se ele estiver recusando líquidos por conta da dificuldade respiratória, pode ser necessário oferecer soro por via intravenosa (na veia) ou usar sonda nasogástrica para alimentação no hospital​

      Manter o bebê hidratado ajuda a fluidificar as secreções e evitar que ele piore por desidratação.


    • Alívio da congestão nasal: higiene nasal frequente é muito importante. Em casa, os pais devem fazer lavagem do narizinho com soro fisiológico várias vezes ao dia e antes de cada mamada, aspirando gentilmente as secreções com um dispositivo apropriado. Nariz desentupido = bebê respirando e mamando melhor. Essa é uma medida simples que previne muita complicação! Em ambiente hospitalar, fisioterapeutas respiratórios ou enfermeiros podem auxiliar na limpeza das vias aéreas do bebê (aspiração cuidadosa) quando necessário​

    • Oxigenoterapia (suporte de oxigênio): se a saturação de O₂ estiver baixa ou se o bebê mostrar sinais de cansaço para respirar, os médicos fornecem oxigênio suplementar. Isso pode ser feito por cateter nasal (um caninho no nariz) ou máscara, de modo a manter a oxigenação acima de 90%​

      Em casos mais graves, ou se o bebê é muito pequeno, pode-se usar um capacete de oxigênio ou até suporte ventilatório não invasivo, como a cânula nasal de alto fluxo (um aparelho que fornece oxigênio umidificado em fluxo contínuo). O objetivo é sempre ajudar a criança a respirar melhor até que a inflamação dos bronquíolos regrida.


    • Observação e posição adequada: bebês com bronquiolite precisam ser observados de perto. Em casa, os pais devem verificar a respiração com frequência, inclusive à noite. Mantê-los em posição levemente elevada (como semideitados, com o tronco inclinado) pode facilitar a respiração. No hospital, monitores acompanham batimentos e oxigênio, e a equipe fica atenta a qualquer piora.

  • Medicações: o que não fazer: as diretrizes modernas poupam os bebês de medicamentos desnecessários. Broncodilatadores (como salbutamol/“bombinha”) não são recomendados de rotina​, porque a maioria dos estudos não mostrou melhora consistente no quadro da bronquiolite típica. Em alguns casos selecionados, o médico pode até fazer um “teste” com broncodilatador – por exemplo, se suspeitar que a criança possa ter algum componente de broncoespasmo (asma precoce) associado – mas isso não é regra geral e, se não houver melhora clara, não se continua. Corticóides (como dexametasona, prednisona) também não ajudam na bronquiolite aguda​ e não devem ser usados, a não ser que haja outra condição junto (por exemplo, se a criança também for asmática, o médico pode avaliar caso a caso). Antibióticos não entram no tratamento, pois o agente é viral – só seriam indicados se houvesse suspeita de infecção bacteriana secundária (como uma pneumonia bacteriana concomitante, o que não é a regra)​

    Fisioterapia respiratória tradicional (percussão, tapotagem) não é indicada de rotina, pois não demonstrou benefício na maioria dos bebês sem comorbidades – a exceção é quando a criança tem muita secreção ou alguma doença neurológica que dificulta a tosse, aí fisioterapeutas podem atuar para ajudar na eliminação de muco. Nebulização com adrenalina ou soro hipertônico tem pouca evidência de benefício consistente, então não são medidas padrão – podem até ser tentadas em ambiente hospitalar em casos específicos, mas não fazem parte do cuidado básico recomendado​

    Em resumo, menos é mais: nada de xaropes, nenhum remédio “milagroso” – o foco é dar suporte e aguardar o vírus ir embora. Esse conceito é seguido pelos melhores hospitais. O Hospital Sabará, por exemplo, ressalta que o tratamento é basicamente suporte (hidratação e oxigênio) e que medicamentos como corticoides e broncodilatadores não fazem parte da rotina em bronquiolite, alinhado às evidências científicas atuais. O Hospital Albert Einstein, em suas diretrizes, igualmente enfatiza hidratação, monitoramento e suporte respiratório como pilares do manejo, conforme as recomendações da SBP e AAP.


    Criança fazendo inalação

 Acima: bebê recebendo medicação inalatória com auxílio de espaçador e máscara. Nos casos de bronquiolite, inaladores e outros medicamentos geralmente têm pouco efeito, a não ser em situações específicas. O tratamento principal é garantir oxigênio e hidratação, como é feito nos hospitais com protocolos atualizados.

  • Critérios de internação: nem toda bronquiolite requer internação. A maioria dos casos é leve e pode ser cuidado em casa com acompanhamento. Os protocolos médicos estabelecem critérios claros para internar: saturação persistentemente baixa (< 90% mesmo com oxigênio ambiental), desidratação (bebê não consegue ingerir líquidos), cansaço respiratório acentuado (bebê respirando >60-70 vezes por minuto, com muita tiragem), apneias, ou qualquer agravamento do estado geral. Bebês muito novos (menos de 3 meses), especialmente prematuros ou com cardiopatia, tendem a ser internados com mais facilidade por segurança, já que o risco de complicações é maior​

    Em hospitais como o Sabará e o Einstein, segue-se um fluxo de atendimento padronizado: a criança é avaliada, se preencher critérios de gravidade, é internada para suporte; se não, os pais recebem orientações claras de cuidado domiciliar e sinais de alarme para voltar. Essa padronização diminui erros e garante que quem precisa de internação a receba no momento certo.


  • Duração e evolução: normalmente, o pico da bronquiolite ocorre entre o terceiro e quinto dia de doença​

    Após isso, os sintomas tendem a se estabilizar e, em seguida, melhorar gradualmente ao longo de 7 a 10 dias, embora a tosse possa persistir por até 2 semanas. Durante toda a fase aguda, o mais importante é o acompanhamento próximo. Mesmo no hospital, não há um “soro” ou antiviral específico que acelere a cura – o vírus precisa seguir seu curso. Porém, as medidas de suporte fazem toda diferença para atravessar esse período com segurança. Vale lembrar que uma bronquiolite pode deixar o bebê com chiado recorrente nos meses seguintes (chamado às vezes de “bebê chiador pós-bronquiolite”), mas isso geralmente desaparece conforme a criança cresce. O pediatra fará o seguimento após a fase aguda para orientar sobre possíveis cuidados posteriores (como evitar fumo passivo, umidade, etc., que podem desencadear novos chiados).


Sazonalidade, panorama em São Paulo e como prevenir bronquiolite

A bronquiolite tem uma sazonalidade bem definida. No estado de São Paulo, os casos aumentam tipicamente no outono e inverno (aproximadamente de abril a agosto) devido à circulação mais intensa do VSR nesses meses​

O clima mais frio leva as pessoas a ficarem em ambientes fechados e aglomerados (creches, escolas, shoppings), facilitando a transmissão viral​

Em 2023 e 2024, esse padrão se confirmou: houve verdadeiras ondas de bronquiolite. No pico de 2024, o Brasil chegou a registrar mais de 22 mil casos de bronquiolite em crianças de 0 a 2 anos até meados de julho, com quase 200 óbitos relatados​

Foi um dos anos de maior incidência já observados, possivelmente agravado pelo retorno das interações sociais pós-pandemia. Estados do sudeste, como São Paulo, tiveram aumento importante de internações por bronquiolite, embora o surto tenha sido reportado como ainda mais intenso em algumas regiões do sul do país​

Na cidade de São Paulo, hospitais pediátricos ficaram lotados nesse período, e serviços de saúde emitiram alertas para que os pais estivessem atentos aos sintomas nos bebês.


Especificamente na região de Piracicaba (SP), os órgãos de saúde divulgaram preocupação com o salto de casos em 2024. Como mencionamos, os atendimentos por bronquiolite mais que dobraram em relação ao ano anterior​

Esse aumento de 108,65% não passou despercebido. Autoridades de saúde intensificaram campanhas de orientação e medidas preventivas, enfatizando cuidados simples que podem evitar a disseminação do vírus sincicial. Houve treinamento de equipes de pronto-atendimento para reconhecer e conduzir casos de bronquiolite com agilidade, inclusive alertando serviços que normalmente atendem adultos a identificarem bebês em risco​

Essa mobilização aconteceu porque com a proximidade do inverno a tendência é os casos subirem ainda mais (como de fato ocorreu).


Felizmente, a prevenção da bronquiolite avançou nos últimos anos. Até pouco tempo atrás, não havia vacina disponível contra o VSR para o público geral – apenas uma imunização passiva (palivizumabe) restrita a bebês de alto risco. Porém, em 2023/2024, chegaram novas tecnologias: um anticorpo monoclonal de longa duração (chamado nirsevimabe) e uma vacina para gestantes contra o VSR. No Brasil, o Ministério da Saúde anunciou em 2025 a incorporação dessas ferramentas no SUS​

A ideia é aplicar o anticorpo em bebês antes da sazonalidade (protegendo principalmente os prematuros e com comorbidades) e vacinar grávidas para que passem anticorpos aos recém-nascidos​

Estimativas indicam que a vacinação de gestantes poderia prevenir cerca de 28 mil internações de bebês por ano no país​

Essa é uma notícia animadora para pais e pediatras – significa que nos próximos anos poderemos ver menos bebês adoecendo gravemente. Informe-se com seu pediatra sobre a disponibilidade dessas imunizações, especialmente se seu bebê for pequeno durante os meses de maior circulação do vírus.


Para os demais casos, a prevenção continua sendo baseada em medidas de higiene e bom senso, semelhantes às que usamos contra outras viroses respiratórias:

  • Lavar as mãos com frequência: o VSR e outros vírus respiratórios passam de pessoa para pessoa através das mãos e superfícies. Lavar bem as mãos antes de pegar o bebê e incentivar irmãos e cuidadores a fazer o mesmo reduz bastante o risco​

  • Evitar aglomerações e contato com doentes: no pico da temporada de bronquiolite, tente não levar seu bebê (sobretudo se for recém-nascido ou menor de 6 meses) a lugares muito cheios ou fechados. Evite contato próximo com pessoas gripadas ou resfriadas – isso inclui não deixar que beijem o rosto do bebê ou peguem nele sem higienizar as mãos​

    Muitos familiares e amigos, sem querer, podem transmitir vírus ao visitar um neném; portanto, gentileza pedir que usem álcool gel e adiem visitas se estiverem doentes.


  • Ambiente arejado e livre de fumaça: em casa, mantenha os ambientes ventilados. Não fume de forma alguma perto de bebês (fumaça de cigarro irrita as vias aéreas e aumenta o risco de infecções respiratórias).

  • Amamentação e bom estado nutricional: se possível, amamente o bebê. O leite materno fornece anticorpos e reforça a imunidade, ajudando a protegê-lo de infecções ou a ter formas mais leves. Bebês bem nutridos e hidratados enfrentam melhor os vírus.

  • Calendário vacinal em dia: mantenha as outras vacinas (como gripe e COVID-19, quando indicadas na faixa etária) atualizadas. Isso não previne bronquiolite diretamente, mas evita que outras doenças confundam ou compliquem um quadro viral. A vacina da gripe, por exemplo, protege contra influenza, que pode causar quadros semelhantes.

Por fim, fique atento a campanhas regionais. Em vários municípios de São Paulo, têm sido realizadas ações de conscientização sobre bronquiolite – palestras em UBSs, distribuição de soro fisiológico nasal, divulgação de materiais educativos em creches, etc. Piracicaba e cidades vizinhas frequentemente divulgam boletins informando sobre o aumento de casos e reforçando as dicas de prevenção durante o outono/inverno. Aproveite essas informações e compartilhe com familiares e cuidadores do seu filho.

Em resumo: a bronquiolite é comum e pode assustar, mas com informação os pais podem reconhecer os sinais precoces e agir rápido. Observe a respiração do seu bebê durante os resfriados, não hesite em buscar ajuda se notar algo diferente e siga as orientações do pediatra. Evite os erros comuns de subestimar a doença ou usar medicações caseiras, e confie nas medidas simples de suporte – muitas vezes, é o que resolve. Graças às orientações unificadas de instituições como a SBP, AAP e hospitais de referência, hoje tratamos bronquiolite de forma mais eficaz e segura, focando no bem-estar do bebê e evitando intervenções desnecessárias​

E melhor ainda, com as novidades na prevenção (vacinas e anticorpos), esperamos reduzir bastante o impacto dessa doença nos próximos anos. Converse com seu pediatra sobre qualquer dúvida e proteja seu pequeno, especialmente nos meses de maior circulação do VSR. Informados e atentos, podemos vencer a bronquiolite com tranquilidade e cuidado. Boa saúde a todos!


Dr Heitor Oliveira


Referências:

  1. Sociedade Brasileira de Pediatria – Diretrizes para Manejo da Infecção pelo VSR (Bronquiolite). SBP, 2017. sbp.com.br (Dados epidemiológicos e recomendações de tratamento).


  2. Fernanda Fialho – CBN Rio Entrevista, 04/06/2024. Pediatra pela Secretaria Estadual de Saúde/RJ, orientações sobre sinais de alerta da bronquiolite​. cbn.globo.com

  3. Raízes FM Notícias – “Casos de bronquiolite aumentam 108,65% na região de Piracicaba”. Publicado em 02/04/2025. raizesfm.com.br(Dados regionais de Piracicaba e sazonalidade).


  4. Tâmara Freire – CNN Brasil, “Bronquiolite: complicações causadas por VSR crescem em 2024 no Brasil”. 28/07/2024. cnnbrasil.com.br

     (Números nacionais de casos e óbitos, destaque VSR).


  5. Ministério da Saúde – Incorporação da vacina de VSR (gestantes) e nirsevimabe. Nota oficial, 17/02/2025. gov.br

     (Previsão de internações evitadas e descrição das novas tecnologias de imunização).


  6. Residência Pediátrica (Soc. Brasileira de Pediatria) – “Tratamento da bronquiolite viral aguda”, 2020. residenciapediatrica.com.br

     (Revisão de condutas terapêuticas com base em evidências atuais).


  7. Medscape Reference – Bronchiolitis Guidelines (resumo das diretrizes da AAP). Última atualização 2023. emedicine.medscape.com

     (Suporte, dispensa de exames e não uso de fisioterapia/broncodilatadores rotineiros).


  8. Portal Fiocruz – “Bronquiolite: conheça os sinais e saiba como tratar”. IFF/Fiocruz, 08/08/2017. portal.fiocruz.br

     (Sintomas iniciais e manejo de casos leves vs. graves).


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