Como pediatra e médico de família, acompanho com atenção o recente surto de diarreia no litoral paulista. Para garantir a saúde das nossas crianças, especialmente durante as férias, precisamos estar bem informados e vigilantes. Diarreia na praia não pode ser menosprezada.
Possíveis Causas:
Contaminação da água:
Esgoto: o despejo inadequado de esgoto em áreas próximas às praias pode contaminar a água com bactérias, vírus e protozoários como a Escherichia coli, Salmonella e Giardia, causadores de gastroenterite.
Enchentes: as chuvas de verão podem causar enchentes, levando à contaminação da água do mar com esgoto e outros detritos.
Condições climáticas: o calor e a umidade favorecem a proliferação de microorganismos na água.
Alimentos contaminados:
Frutos do mar: o consumo de frutos do mar crus ou mal cozidos, contaminados por vírus ou bactérias, é um risco.
Maionese e outros molhos: a maionese caseira e outros molhos, quando expostos ao calor, podem ser um meio de cultura para bactérias.
Alimentos vendidos na praia: alimentos vendidos por ambulantes, sem a devida refrigeração e higiene, podem estar contaminados.
Higiene precária:
Mãos sujas: a falta de lavagem das mãos após usar o banheiro, trocar fraldas, tocar em animais ou superfícies contaminadas, e antes de comer, facilita a transmissão de agentes infecciosos.
Brinquedos na areia: brinquedos que caem na areia podem ser contaminados e levar microorganismos à boca da criança.
Aglomerações:
praias lotadas aumentam o contato entre pessoas, facilitando a propagação de vírus e bactérias, principalmente em áreas com saneamento básico precário.
Viroses:
Rotavírus: causa diarreia aquosa, vômitos e febre, principalmente em crianças pequenas. A vacinação é a principal forma de prevenção.
Norovírus: altamente contagioso, causa diarreia, vômitos e dores abdominais. A transmissão ocorre por contato com pessoas infectadas ou superfícies contaminadas.
Sintomas da diarreia no litoral
Fique atento a estes sinais:
Diarreia: evacuações líquidas e frequentes, podendo conter muco ou sangue, podendo indicar infecção bacteriana.
Vômitos: frequentes e intensos, podem levar à desidratação.
Dores abdominais: cólicas e desconforto abdominal.
Febre: normalmente baixa ou moderada.
Desidratação: observe sinais como boca seca, diminuição da urina, olhos fundos, choro sem lágrimas, sonolência e irritabilidade.
Cuidados e Prevenção:
Hidratação: ofereça líquidos constantemente, em pequenas quantidades: água, soro oral, água de coco e sucos naturais sem açúcar.
Alimentação leve: prefira alimentos de fácil digestão: frutas (maçã, banana), legumes cozidos, arroz, batata, frango cozido e peixe grelhado. Evite alimentos gordurosos, frituras, doces, refrigerantes e leite integral.
Higiene rigorosa: lave as mãos da criança frequentemente com água e sabão, utilize álcool em gel 70%, e ensine-a a fazer o mesmo. Lave os brinquedos que forem usados na areia.
Cuidado com a água: utilize água engarrafada ou fervida para beber, preparar alimentos e escovar os dentes. Evite o contato da criança com água do mar em praias com histórico de contaminação.
Evite aglomerações: escolha horários e locais menos movimentados na praia, e evite o contato com pessoas doentes.
Vacinação: mantenha a carteira de vacinação da criança em dia, especialmente a vacina contra o rotavírus.
Tratamento:
A maioria dos casos se resolve com hidratação e repouso.
Casos graves, com desidratação ou sangue nas fezes, exigem atendimento médico imediato para reposição de líquidos e eletrólitos (soro na veia) e uso de medicamentos, se necessário.
Não medique a criança sem orientação médica. O uso inadequado de medicamentos pode mascarar sintomas e agravar o quadro.
Lembre-se:
A prevenção é fundamental para proteger a saúde das crianças. Ao seguir essas recomendações, você garante férias mais seguras e tranquilas para sua família.
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